Antiga espécie de golfinhos identificada... graças a uma prática de pesca destruidora.
Escrito por Petrus
Qua, 12 de Janeiro de 2011 10:27
|
Instituto
|
Por Juliette Savin
Está sendo exibido no Museu de História Natural de Roterdã o fóssil de uma ‘nova’ espécie de golfinho, o golfinho ‘Cabeça-de-Balão’, que vivia no mar do Norte há 2.5 milhões de anos.
O fóssil, um pedaço do osso da cabeça do golfinho, foi encontrado por um pescador holandês, Albert Hoekman, em 2008. Os paleontólogos Klaas Post e Erwin Kompanje, pesquisadores especializados no estudo de fósseis, do Museu do Roterdã, recentemente publicaram um estudo na revista Deinsea, no qual concluem que se trata de uma espécie antiga de golfinhos, desconhecida pela ciência, mas que pertence à mesma família dos golfinhos atuais. A espécie foi batizada como Platalearostrum hoekmani em homenagem ao seu descobridor.
O golfinho Cabeça-de-Balão provavelmente é um parente da atual Baleia-Piloto, que tem uma protuberância na cabeça. Como a Baleia-Piloto, o golfinho Cabeça-de-Balão devia usar esse bulbo na cabeça como biosonar para se orientar.
Essa história poderia ser bonita, como as muitas descobertas de fósseis importantes para a paleontologia por agricultores, crianças, pescadores e pessoas que os acharam por acaso ... Se não fosse por um pequeno detalhe: Hoekman pratica pesca intensiva usando redes gigantes que levam tudo o que encontram no seu caminho, inclusive fósseis!
“Durante as quatro últimas décadas, o Mar do Norte tem revelado mais de dez mil fósseis através da pesca intensiva com grandes redes (trainas)”, dizem os autores do estudo. A pesca com trainas e uma prática comercial altamente destruidora, que leva à superexploração do pescado, sobrepesca e à destruição de ecossistemas marinhos. A falta de controle de tais práticas de pesca, no mundo inteiro, está colocando muitas espécies de peixe em risco de extinção.
A descoberta de fosseis é uma coisa boa e positiva, e sempre é um avanço para a ciência, descobrir o que vivia nos nossos oceanos no passado. Mas será que tais descobertas não podem nos fazer parar para pensar no que estamos fazendo ao nosso planeta? Queremos que o que permaneça dessa multidão de espécies de peixes que vivem nos oceanos seja só fósseis? Ou queremos ver os peixes vivos e saudáveis?
Leia mais na matéria da National Geographic
|
Última atualização em Qua, 12 de Janeiro de 2011 13:16 |
Mudanças climáticas no contexto de biodiversidade
Escrito por Petrus
Qua, 05 de Janeiro de 2011 08:51
|
Instituto
|
Por Raquel Neves
Apesar de ser um dos assuntos mais polêmicos e de maior atenção da mídia, pouco foi acordado nas últimas conferências globais de mudanças climáticas. A última conferência, realizada em Cancun, foi em dezembro de 2010. O acordo fechado entre os 194 países participantes tem como pontos o programa de ajuda para países em desenvolvimento, medidas para desacelerar o aquecimento global, diretrizes para o protocolo de Kyoto, e metas de redução do desmatamento (leia mais). Apesar de o acordo englobar pontos importantes, estes ainda são considerados modestos quando comparados às metas estipuladas em conferências anteriores.
As prospecções ecológicas indicam que as mudanças climáticas irão afetar seriamente a biodiversidade global, entretanto, os impactos ecológicos dessas mudanças são mais lentos, o que faz com que as ações necessárias para desacelerar as mudanças no clima ainda sejam negligenciadas. Por outro lado, outros fatores de impacto como as modificações no uso da terra, poluição e bioinvasão (invasão do ecossistema por espécies não nativas) exercem uma força de rápido efeito e grande impacto global.
O que podemos esperar em relação ao impacto de modificações no clima em sistemas marinhos ? Uma possível consequência é uma maior diferença de temperatura entre a camada de água mais superficial que fica mais quente, e a água mais fria do fundo. Como a densidade da água muda conforme a temperatura, sendo a fria mais densa e indo para o fundo, essas águas acabam não se misturando. A mistura da coluna d’água é importante para o fornecimento de nutrientes para as camadas mais superficiais que tendem a ser mais pobres em função do alto consumo de nutrientes (principalmente nitrogênio e fósforo) por organismos que fazem fotossíntese, fitoplâncton, e se mantém na superfície iluminada pela luz do sol. Logo, quanto maior a diferença de temperatura entre essas camadas, mais difícil ocorrerá a mistura dessas águas, deixando as águas superficiais cada vez mais pobres em nutriente. O efeito disso, logo no primeiro momento é a diminuição da quantidade de fitoplâncton, que é a base da cadeia alimentar dos ecossistemas marinhos, determinando uma menor produtividade pesqueira. Além de questões térmicas, outra consequência bastante discutida é o derretimento do gelo marinho e a redução no pH da água do mar impulsionada pelo aumento da disponibilidade de CO2 proveniente de processos industriais. Os oceanos absorvem o CO2 da atmosfera o que causaria um desequilíbrio no pH da água marinha e limitaria a vida dos organismos, principalmente os que liberam gametas e embriões na coluna d’água (leia aqui o artigo da revista Current Biology sobre esse assunto). Com a alteração do pH os gametas se tornam pouco viáveis o que reduz o sucesso na reprodução dessa espécie e, a longo prazo, poderia causar a extinção da mesma. Outro problema relacionado ao aumento de CO2 na atmosfera está associado aos compostos de carbonato de cálcio. Quanto mais CO2 na atmosfera menor seria a quantidade de carbonato de cálcio disponível na água do mar, devido à alteração no balanço químico entre esses compostos que determinam a dissolução desse carbonato. Assim, animais como moluscos com conchas (mexilhões e caramujos) e corais sofreriam com a carência do material básico para a construção de seu corpo, o carbonato de cálcio.
Os processos no meio ambiente são interligados e interagem entre si, o que nos faz pensar que não podemos predizer todas as grandes mudanças que podem ocorrer caso o cenário ambiental se mantenha no caminho que assistimos atualmente. Variações no clima e na composição das espécies terrestres e marinhas determinam modificações (ou mesmo quebra) nos processos de produção de energia, alimentos e fármacos importantes para a vida humana. E o que podemos fazer ? Mudar pequenos hábitos básicos de forma a reduzir o consumo e os impactos ao meio ambiente, além de pressionar o poder público para que seja modificada a cultura do “progresso econômico a qualquer custo” buscando resguardar os ecossistemas naturais.
Mais sobre esse assunto na revista Nature.
|
Última atualização em Qui, 06 de Janeiro de 2011 13:22 |
O rabo abanando o cachorro
Escrito por Petrus
Qua, 15 de Dezembro de 2010 13:30
|
Instituto
|
Por Petrus Galvão
Trazemos agora uma notícia que mostra bem como temos, dia após dia, atentado contra nós mesmos com a nossa contínua apatia para nossos problemas ambientais. Jogar o lixo fora, na imensa maioria das vezes, não significa dar destinação adequada aos resíduos que geramos no cotidiano. Sem perder o fio da meada, e voltando ao cabeçalho deste comentário, chama atenção por que a notícia sobre o perigo do consumo de atum com alta concentração de mercúrio ganha muito mais atenção do que o volume de efluentes (industriais e domésticos) não tratados que atingem os nossos mares. O órgão federal dos Estados Unidos da América adverte para o perigo de ingestão do atum em lata, principalmente para crianças, lactantes e gestantes (leia mais). Como esse peixe acumulou tanto mercúrio em sua carne? De onde veio esse mercúrio? Por que há o perigo de ingestão deste pescado?
Todas essas respostas podem ser resumidas e simplificadas com a seguinte afirmativa: nossa sociedade pensa exclusivamente em como se livrar dos entraves para que se alcance o lucro econômico imediato. Questões de conservação ambiental são encaradas como euforia de militantes verdes. E assim, seguimos nossas rotinas diárias em busca de nossas conquistas profissionais, realização dos sonhos de consumo, um salário melhor, etc.
Enquanto isso, as cidades continuam despejando toneladas e mais toneladas de resíduos com concentrações elevadíssimas de toda a sorte de substâncias altamente tóxicas (como o mercúrio), que muitas vezes se acumulam ao longo da cadeia alimentar dos sistemas aquáticos, aumentando em concentração desde a presa ao predador (como o mercúrio). Quando isso acontece, nós limitamos os nossos acessos aos alimentos que o mar nos oferece, pois estes se encontram contaminados por “N” agentes tóxicos, ou mesmo por que estas substâncias simplesmente levam à morte alguns espécimes, já que alguns destes tóxicos (como novamente o mercúrio) são teratogênicos (como o mercúrio), ou seja, responsáveis pela má formação do embrião e podem levar à morte.
Bom, enquanto insistirmos que o cachorro serve para abanar o rabo, continuaremos nessa corrida insana para nos protegermos de nós mesmos. E você? O quê você comeu hoje?
|
Última atualização em Qua, 15 de Dezembro de 2010 17:00 |
Produtos químicos usados depois de derrames de petróleo seriam prejudiciais para a vida marinha
Escrito por Petrus
Seg, 06 de Dezembro de 2010 11:10
|
Instituto
|
Produtos químicos usados depois de derrames de petróleo seriam mais prejudiciais para a vida marinha do que petróleo, revela pesquisador em congresso nos EUA.
Por Juliette Savin
O uso de dispersores químicos para reduzir o impacto do vazamento de petróleo do Deepwater Horizon, no Golfo do México, pode ter prejudicado a vida marinha mais do que o petróleo cru, segundo Peter Hodson, especialista em toxicologia aquática da Universidade de Queen's em Kingston, no Canadá.
Hodson apresentou esse resultado durante o SETAC, congresso anual da Sociedade pela Toxicologia Ambiental e Química (Society of Environmental Toxicology and Chemistry), realizado no inicio de novembro em Portland, Oregon, nos EUA.
Deepwater Horizon era uma plataforma de extração de petróleo localizada no golfo do México, e construída especialmente para perfurar poços de petróleo em águas ultraprofundas (até 2400 m de profundidade). A Deepwater afundou no golfo do México em abril de 2010, causando o maior derrame de petróleo no mar da história.
Logo depois do derrame, a British Petroleum (BP) começou a usar dispersores químicos para, como o nome indica, dispersar o petróleo em gotinhas microscópicas. Segundo a BP, essas gotinhas facilitam o processamento por bactérias que digerem petróleo, e também evitam que placas de petróleo cheguem a praias e litorais.
Muitas pessoas, inclusive cientistas, ativistas e ambientalistas, denunciaram o uso exagerado de dispersores depois da explosão da Deepwater Horizon. A toxicidade dos dispersores químicos não tinha sido testada de maneira rigorosa e a Agência de Proteção do Meio Ambiente (Environmental Protection Agency EPA, o IBAMA dos EUA) resolveu pedir aos pesquisadores da BP que realizassem testes antes de espalhar grandes quantidades de dispersores no golfo do México. Os resultados dos testes foram publicados pela EPA em agosto de 2010. Baseados na análise do impacto de 8 tipos de dispersores sobre espécies de camarão e peixe, eles estipularam que o uso de dispersores não é mais ou menos tóxico para organismos marinhos do que o petróleo cru. No entanto, a EPA recomenda usar dispersores com moderação e só quando necessário.
Agora em uma pesquisa independente, Peter Hodson mostra que dispersores têm um impacto sobre embriões de peixes. Com o uso de dispersores, os constituintes poluentes do petróleo, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), se espalham pela água em gotas microscópicas e contaminam volumes muito maiores de água do que uma mancha de petróleo cru na superfície do oceano, por exemplo. Isso aumenta drasticamente a exposição de organismos marinhos a esses poluentes. Hodson observou que embriões do peixe “aranque do Atlantico” (nome cientifico Clupea harengus) são muito sensíveis quando expostos à HPAs, e que mesmo uma curta exposição (1h), tem efeitos negativos nos embriões. Os peixes expostos, quando se tornam adultos, sofrem doença, problemas para nadar e morrem antes dos outros.
Leia a materia da revista Nature sobre esse estudo aqui
|
Última atualização em Qua, 15 de Dezembro de 2010 13:27 |
A Revolução do Selo Verde
Escrito por Petrus
Ter, 16 de Novembro de 2010 18:38
|
Instituto
|
por Raquel Neves
A crescente demanda nas últimas décadas sobre a captura de peixes e grandes crustáceos fez com que os estoques pesqueiros entrassem em colapso. Atualmente, espécies com alto valor comercial estão sobre-exploradas, ameaçadas ou já extintas. Uma das alternativas para reduzir a pressão sobre os estoques foi a aquacultura, também chamada de revolução azul. Esta consiste no cultivo de recursos marinhos em sistemas fechados (tanques) e/ou abertos, como cercas ou grades que podem ser colocadas em mar aberto (menos comum) ou em ecossistemas marinhos de fácil acesso como estuários ¹. Mas fique esperto! A solução para aliviar as pressões em populações naturais pode não ser totalmente “amiga” do meio ambiente. Fazendas marinhas sem o manejo adequado podem causar a destruição e eutrofização de habitats naturais, a introdução de espécies exóticas e espalhar doenças em populações naturais ². Uma alternativa aos consumidores com consciência ambiental é o selo verde, que ainda é pouco conhecido e exigido pelos brasileiros. O pescado com selo verde já pode ser encontrado no Brasil. Este certifica que as espécies são cultivadas ou capturadas de forma sustentável, ou seja, de forma a preservar os estoques pesqueiros para as próximas gerações, respeitando os ecossistemas do entorno, utilizando água e outros recursos sem desperdícios e sem interferir nas populações naturais. Mesmo após o artigo de opinião publicado no periódico de circulação internacional intitulado “Nature”, em que cientistas põem à prova a forma como a certificação verde está sendo feita ³, o selo verde é uma grande conquista do consumidor e pode contribuir diretamente com o futuro dos estoques pesqueiros. Uma dica aos que querem adotar os produtos com selo verde: o catálogo sustentável (http://www.catalogosustentavel.com.br/), desenvolvido pelo Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), informa as características técnicas e a certificação de diversos produtos e serviços por região do Brasil. ¹ http://www.nature.com/nature/journal/v436/n7048/full/436175a.html ² http://www.csa.com/discoveryguides/aquacult/overview.php ³ http://www.nature.com/nature/journal/v467/n7311/full/467028a.html
|
Última atualização em Qua, 15 de Dezembro de 2010 13:26 |
|