Associação alimentar entre peixes recifais seguidores

Escrito por Clerio Aguiar Jr
Ter, 08 de Setembro de 2020 17:49
Instituto

Por Pedro Henrique Cipresso Pereira - Associação alimentar entre peixes recifais seguidores

Artigo publicado originalmente na edição 03 revista InForMar

Diversos tipos de associações alimentares são descritas para todos os grupos de vertebrados, incluindo os peixes. A alimentação de peixes chamados de “seguidores” é favorecida pela associação alimentar descrita como “nuclear-seguidor” (nuclear-folowing behavior).

Esta interação é caracterizada pela presença de uma espécie denominada “nuclear”. Esta espécie “nuclear” busca seu alimento (forrageia) em determinado substrato (um fundo de areia, por exemplo), o que expõe os animais que vivem ali, tornando-os presas (alimento) para uma espécie oportunista – a “seguidora”.

Tal relação interespecífica, que ocorre entre espécies diferentes, acontece frequentemente entre os peixes que habitam ambientes recifais. Uma maior taxa de ocorrência das interações interespecíficas garante um maior sucesso alimentar para as espécies de um ecossistema, e o caracteriza como ecologicamente saudável e equilibrado.

A interação alimentar “nuclear-seguidor” já foi documentada em inúmeros locais ao redor do mundo e para muitas espécies. Entre os peixes recifais, normalmente a espécie que atua como “nuclear” é um indivíduo com dieta carnívora ou herbívora, como cirurgiões e budiões (famílias Acanthuridae e Scaridae). No entanto, já há registros em trabalhos científicos de polvos, moréias, estrelas-do-mar, tartarugas marinhas e até elasmobrânquios atuando como espécies nucleares.

Um exemplo interessante desta interação ocorre entre algumas espécies de peixes, destacando-se as curiosas garoupas como espécie “seguidora”, e uma espécie da família Ophichthidae- Myrichthys ocellatus – conhecida popularmente como mututuca ou miriquitis, que atua como “nuclear”. O nosso grupo de pesquisa do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE - já registrou 12 espécies de peixes recifais que atuam como “seguidoras” da “nuclear” mututuca ao longo do litoral brasileiro (na Reserva Biológica do Arvoredo – Santa Catarina, Cairú – Bahia, no Arquipélago de Fernando de Noronha e na Costa de Pernambuco), e a maioria destas espécies é pertencente à família Epinephelidae (garoupa, badejo e piraúna).

A mututuca possui o corpo com formato cilíndrico e um olfato muito acurado e potente, e assim consegue ter acesso às presas, como pequenos caranguejos, que estejam enterradas no substrato ou escondidas entre frestas e locas dos ambientes recifais. Portanto, as espécies “seguidoras” buscam se alimentar destas presas expostas pela espécie “nuclear”, já que seria praticamente impossível capturá-las sozinhas. Assim, fica uma dica para os mergulhadores e pessoas fascinadas pelo mar: estejam atentos para observar as interações alimentares! Estas, em conjunto com as associações de limpeza, camuflagem, e tantas outras, fazem do ecossistema marinho um ambiente belo e fascinante, mas infelizmente ainda muito carente de preservação.

Última atualização em Ter, 08 de Setembro de 2020 17:58
 

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